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Reflexões na poesia do Pink Floyd #14

Welcome my son, welcome to the machine.
What did you dream?
It’s alright we told you what to dream.

Música: Welcome to the machine

Álbum: Wish you were here

Não é muito difícil, hoje em dia, ter-se a nítida impressão de que estamos sendo (tele)guiados. Somos constantemente bombardeados com imagens e sons que remetem a um mundo de fantasia onde todo mundo é feliz e bem sucedido, tendo ao alcance da mão qualquer coisa que se queira ter, bastando apenas uma passada de cartão de crédito.

Nada contra o consumo; eu mesmo sou bem consumista com coisas que me interessam (filmes, livros, viagens, cervejas…), o problema é que a todo o momento tenho a impressão de estar sendo alimentado à força com demandas artificiais que me parecem existir apenas para alimentar a roda do comércio.

Que me desculpem àqueles que se ligam em simbolismos e tradições, mas o ano se apresenta a nós pelas telas da TV, pelos anúncios de outdoors e pelas “ofertas” nos shoppings (reais ou virtuais) como uma sucessão de datas que parecem ter o único objetivo de alimentar os bolsos de quem vende coisas.

O carnaval serve para que viajemos, seguido da páscoa, na qual compra-se chocolate por meio de uma matemática estúpida (paga-se muuuuito mais em uma mesma quantidade de chocolate só porque foi feito em forma de ovo ao invés de em barra), seguida do dia das mães (neste ainda se anunciam ofertas, olha que lindo, de máquinas de lavar, fogões e geladeiras, como se estes fossem sonhos de consumos dessas mulheres a que chamamos de mães), dá-se um tenebroso intervalo, para recomeçar no segundo semestre com o dia dos pais (e os previsíveis símbolos de virilidade que entram em oferta), seguido do dia das crianças (e dá-lhe brinquedos pras crianças) e depois o natal, data em que todo mundo entra no esquema de ficar dando e recebendo presentes.

O problema é que pra mim toda essa lógica de presentes, em especial presentes em datas pré-determinadas, acaba soando muito artificial, principalmente porque a impressão que tenho é que cada vez mais não somos nós que decidimos o que queremos, mas sim apenas consumimos o que nos dizem que devemos querer.

Reflexões na poesia do Pink Floyd #13

What shall we use to fill the empty spaces?
Where waves of hunger roar
Shall we set out across the sea of faces?
In search of more and more applause
Shall we buy a new guitar?
Shall we drive a more powerful car?
Shall we work straight through the night?
Shall we get into fights?
Leave the lights on
Drop bombs
Do tours of the east
Contract diseases
Bury bones
Break up homes
Send flowers by phone
Take to drink
Go to shrinks
Give up meat
Rarely sleep
Keep people as pets
Train dogs
Race rats
Fill the attic with cash
Bury treasure
Store up leisure
But never relax at all
With our backs to the wall
Música: Empty spaces/What shall we do now?
Álbum: The Wall live/The Wall movie

O quanto que vale a pena se sacrificar para ter mais e mais coisas? Para receber aplausos e reconhecimento? Para se sentir útil?

Algo que tem passado pela minha cabeça nos últimos tempos é que eu não preciso, e principalmente não quero, me sujeitar ao esquema trabalhar-estudar-trabalhar com o objetivo de “ir cada vez mais longe” ou “ganhar cada vez mais dinheiro” ou coisa assim.

Prefiro manter minha vida em um padrão em que eu consiga não apenas ganhar uma grana legal, mas principalmente ter tempo e disposição para aproveitá-la com as atividades que realmente me dão prazer.

Não, eu não quero “gostar” do meu trabalho (obviamente também não quero odiá-lo); trabalhar, pra mim, nada mais é do que uma forma de ganhar dinheiro para ser gasto em momentos de lazer.

Não, eu não quero estudar uma porrada de coisas que não me interessam apenas porque vêm no pacote junto a algo pelo qual eu teria algum interesse. Não quero ter que ficar refém de livros, disciplinas e publicações sobre coisas que talvez não me satisfaçam só para ter um certificado que, pra mim, só vai servir para caminhar nos degraus de uma carreira pública.

Admiro quem consiga e goste de fazer esse tipo de coisa.

Eu prefiro trabalhar apenas o suficiente, viajar bastante (quanto mais, melhor), comer e beber bem, ver muitos filmes, ler muitos livros dos mais variados assuntos (sim, desde filosofia, passando pela biologia e chegando até a física, coisas que talvez só sirvam para a minha satisfação intelectual, eu sou egoísta desse tanto mesmo e adoro isso).

Claro que tudo isso pode mudar uma dia, mas por enquanto não vejo como.

 

Reflexões na poesia do Pink Floyd #12

“Mother, should I trust the government?”

Música: Mother

Álbum: The Wall

Bom, como eu estava ontem à noite no Engenhão-RJ maravilhado com o espetáculo audiovisualsensorial proporcionado por Roger Water e sua banda nesta turnê do The Wall, vou deixar para reflexão a resposta à pergunta acima por meio de duas das muitas imagens incríveis do show, projetadas exatamente em resposta a esse verso da música:

A resposta também foi projetada traduzida no gigantesco no Muro, um sonoro:

Obviamente não é só o governo que não merece nossa confiança automática e absoluta, todas as outras figuras de “autoridade” (ou suposta autoridade), e aqui me refiro a pessoas e/ou a instituições, devem sempre ser questionadas e confrontadas. Partidos, políticos, igrejas, religiões, sacerdotes, cientistas, imprensa, “formadores de opinião”, humoristas, nada e nem ninguém deve estar acima de críticas e questionamentos.

Roger Waters – The Wall Live

Exatamente no momento em que este post entra no ar estarei no Estádio Engenhão, Rio de Janeiro, começando a assistir ao que provavelmente será uma experiência sensorial indescritível.

Há quase exatamente 5 anos atrás estive na Praça da Apoteose, RJ, curtindo o show da turnê “The Dark Side of the Moon”, apresentada pelo cérebro por trás do Pink Floyd, Roger Waters (foto à direita). Como era de se esperar, foi um show de encher os olhos e os ouvidos e, sinceramente, não pensei que teria nova oportunidade de ver um espetáculo à altura.

Bom, eu estava enganado…

As últimas vezes em que o álbum “The Wall”, uma verdadeira ópera-rock, foi apresentado na íntegra foram: há mais de 30 anos, ainda com os “4 floyds”, e uma apresentação especial de Roger Waters e convidados em Berlim, em comemoração da queda do Muro que dividia as duas Alemanhas.

Claro que para a experiência ser 100% satisfatória deveria acontecer o que eu citei em um post há quase 1 ano, e que vocês podem conferir neste link. Como isso é altamente improvável, nem vou alimentar essa expectativa (mas se por acaso acontecer, darei notícia).

Reflexões na poesia do Pink Floyd #11

“Us, and them
And after all we’re only ordinary men.”

Música: Us and Them

Álbum: The Dark Side of the Moon

Por mais que algumas pessoas insistam em querer se diferenciar das outras, por mais que alguns seres humanos tentam parecer mais importantes do que outros, no fim ninguém escapa do fato de que todos nós temos muito pouco de diferentes.

Somos todos comuns.

Embora ainda tenhamos um caminho relativamente longo a percorrer na busca por sociedades mais igualitárias, não podemos desanimar e deixar a peteca cair; e uma grande aliada nessa luta (provavelmente a mais importante) é a educação. Não me refiro apenas à educação formal, aquela da escola; refiro-me também ao conhecimento adquirido nas ruas, nos livros, na TV, no rádio, no cinema, nas revistas, nos jornais, etc. Conhecimento que permita a qualquer um de nós perceber que não importa se somos destros ou canhotos, se temos olhos azuis ou castanhos, se somos negros ou brancos (e todos os outros matizes no meio), se somos religiosos ou descrentes, se somos heteros ou não-heteros, se somos homens ou mulheres, se somos novos ou idosos, todos somos pessoas comuns e todos deveríamos ter acesso aos mesmos direitos e às mesmas oportunidades.

Infelizmente, ao contrário do que muitos pensam, estamos bem longe disso ainda.

Reflexões na poesia do Pink Floyd #10

“Money, so they say

Is the root of all evil today.

But if you ask for a raise

it’s no surprise that they’re giving none away.”

Música: Money

Álbum: The Dark side of the Moon

É muito fácil falar que o dinheiro não é importante quando se tem bastante. Se é verdade que grana não traz felicidade, é igualmente verdadeiro dizer que a falta dele também não é nenhuma maravilha.

Dinheiro é importante, sim, e cada pessoa deve ter o entendimento do quanto precisa para ser feliz. Alguns se contentarão com menos, outros precisarão de mais, e não acho que haja um padrão ideal a ser seguido por todas as pessoas.

Tirando algumas exceções, sabemos que renda vem junto com trabalho, e devemos ter a parcimônia de determinar com sabedoria o quanto estamos dispostos a trabalhar para poder usufruir de certa quantidade de dinheiro e, principalmente, o que queremos fazer com essa grana. Queremos constituir família? Criar filhos? Viajar? Comer e beber bem? Estudar? Aposentar? Quais nossos objetivos? O que nos é dispensável? DO que temos vontade? O que consideramos essencial? De quanto dinheiro precisamos para isso? E quanto trabalho temos que fazer para ganhar e aproveitar o que ganhamos? Adianta ganhar muito dinheiro mas não ter tempo ou oportunidades de gastá-lo? Onde está o equilíbrio?

Reflexões na poesia do Pink Floyd #9

“Deaf, dumb and blind,
you just keep on pretending
That everyone’s expendable,
and no one has a real friend”

Música: Dogs

Álbum: Animals

Fico pensando se algumas pessoas realmente acreditam nas coisas em que dizem acreditar ou sentem aquilo que dizem sentir.

Nesses últimos anos de atuação virtual acabei tendo contato com pessoas que, aparentemente, não se importam com qualquer outro ser humano que não eles mesmos. Indivíduos que se acham completamente desprovidos de qualquer necessidade de contato humano ou de convivência com o outro, supostos exemplos vivos de misantropia.

Claro, muitos realmente devem se sentir assim. Quem sou eu para questionar se determinada pessoa é misantropa ou não? Porém, pergunto-me, quantos realmente o são? Quantos não estão apenas racionalizando uma “simples” dificuldade de interação, transformando-a em algo maior do que realmente é? Quantos tentaram sair do próprio casulo? Quantos buscaram quebrar os muros que os cercam (muitas vezes construídos por eles mesmos)?

Quem está apenas fingindo que todos somos descartáveis e ninguém tem amigos de verdade? E quem acha isso mesmo?

Reflexões na poesia do Pink Floyd #8

“Run, rabbit run.
Dig that hole, forget the sun,
And when at last the work is done
Don’t sit down it’s time to dig another one.”

Música: Breathe

Álbum: The Dark Side of the Moon

A mensagem desse trecho pra mim é clara: é impossível parar. Sempre há algo a ser feito na vida, pelo menos se quisermos nos manter ativos e produtivos. Acomodar-se é um erro terrível.

Claro que não me refiro apenas a rotinas relacionadas a trabalho, mas sim, e principalmente, a atividades que mantenham nossa mente funcionando, que nos tragam satisfação intelectual, além daquelas que nos permitam conhecer lugares novos, pessoas novas, aprender coisas novas.

Como diz a música, quando finalmente o trabalho está pronto, não se sente, pois é hora de começar uma nova empreitada.

Reflexões na poesia do Pink Floyd #7

“Hey you

Don’t tell me there’s no hope at all

Together we stand, divided we fall”

Música: Hey You

Álbum: The Wall

Por mais que seja tentador tocar o foda-se pro mundo, tendo em vista toda as variedades de atrocidades que vemos dia a dia na TV, nos jornais, nas revistas e na internet, eu acho que ainda há esperança.

Confesso que não é uma esperança muito grande, certamente eu não acredito que vá viver em um mundo muito melhor do que o atual. A geração atual (e quem sabe mais umas três ou quatro pra frente) terá que se contentar a fazer de tudo para ao menos tentar construir as bases para que as sociedades futuras sejam menos desiguais e mais tolerantes.

Recentemente, Steven Pinker argumentou que, mesmo com todos os problemas,  o mundo nunca foi um lugar tão seguro para viver. Por meio de estimativas e dados estatísticos, Pinker pretende desconstruir a noção de que o século XX foi o mais violento da história, descartando-a como um erro de percepção. Segundo ele,

As estimativas que temos sobre as mortes nos séculos anteriores, quando calculadas como uma proporção da população mundial daquele período, mostram que pelo menos nove atrocidades anteriores ao século XX parecem ser bem piores que a Segunda Guerra Mundial. Estamos falando do colapso de impérios, das invasões de tribos montadas, do tráfego de escravos e da aniquilação de povos nativos com inspiração religiosa. Nessa lista, a Primeira Guerra Mundial nem está entre os dez eventos de maior mortalidade da história.

Todavia, Pinker chama a atenção para um problema no final da entrevista concedida à Revista Veja. De acordo com ele,

a violência deva aumentar no futuro próximo. A história mostra que mudanças culturais e sociais, crises econômicas, novas ideologias e tecnologias podem incitar guerras, conflitos, rebeliões e enfurecer determinados grupos sociais. Mas sou otimista em relação ao fortalecimento dos períodos de paz depois de surtos de violência extrema. Os períodos de paz tendem a ser cada vez mais longos e duradouros.

Diante disso, vem à minha mente a reflexão dos versos que iniciam este post. Cabe apenas a nós, Homo sapiens, garantir a viabilidade do nosso futuro, que como já argumentei em um dos meus textos mais antigos, está mais sujeito a sofrer as consequências de seus própios atos do que o restante da natureza.

Há esperança, entretanto, faz-se necessária a união. Juntos, nós nos mantemos de pé; divididos, cairemos.

Reflexões na poesia do Pink Floyd #6

“Got thirteen channels of shit on the TV to choose from”

Música: Nobody Home

Álbum: The Wall

Hoje em dia é exatamente assim que eu me sinto em relação à TV. Praticamente não há nada que me interessa na telinha. Tirando um ou outro seriado americano que ainda despertam meu interesse e, claro, filmes, não consigo assistir a quase nada que existe de disponível na TV. Exceção feita a telejornais, nos quais busco tentar me manter um pouco informado, embora quase sempre passe raiva por considerar a cobertura tendenciosa e acrítica de algumas emissoras bem irritante; invariavelmente prefiro ler as notícias mais relevantes nas mídias eletrônicas mais independentes, apesar de ter tido pouco tempo pra isso.

A vantagem é que estou lendo vários livros, que alimentam de forma muito mais satisfatória a minha mente.

E não poderia deixar de citar a merda das merdas das TVs de merda: O tal BBB. Sério, esses dias vi uns pedaços enquanto estava em um restaurante e, sinceramente, não consigo entender como alguém pode manter interesse por aquela idiotice descomunal.