A crise na Europa segundo o Papa

Às vezes eu tenho a forte impressão que Joseph Ratzinger, o atual papa, se esforça para dar declarações desprovidas de qualquer sentido. Segundo uma agência de notícias católica, a EWTN, e a tradução e divulgação do site do Paulopes, Ratzinger disse que a atual crise que assola a Europa “nasceu da rejeição de pessoas a Deus, que é quem garante a nossa felicidade”.

Como eu várias outras declarações anteriores, o chefe da ICAR novamente assuma toda a petulância que lhe é peculiar e faz afirmações que, na visão dele, se aplicam a todas as pessoas, quando na verdade fazem sentido apenas àqueles que compartilham da fé dele.

Todavia, o caso agora é ainda pior, pois a afirmação acima, bem como outra proferida no mesmo evento (“A crise que a Europa está ligada a essa negligência, a essa rejeição de abertura para o transcendente.”) simplesmente não fazem o menor sentido, pois vincula uma situação que tem bases sociais e econômicas, assuntos eminentemente seculares, ao declínio e deteriorização da fé religiosa que ele entende como “a Verdadeira” (claro, ou alguém acha que o papa estaria se referindo a quaisquer das centenas de outras vertentes e religiões que existem por aí? Eu duvido.).

É interessante que algumas outras declarações que o papa fez em tom de lamentação, eu considero como verdadeiros avanços.

Segundo ele, “Deus se tornou para muitos o grande desconhecido e Jesus é apenas um grande personagem no passado”. Acertou em cheio! Uma entidade supostamente onisciente, onipresente, oni-sei-lá-o-quê, que existe em algum lugar fora do universo, supostamente controlando-o, uma espécie de “fantasmão amorfo” cuja existência não se apoia em quaisquer evidências racionais, só pode mesmo ser um completo desconhecido, no máximo um produto da imensa criatividade e imaginação humanas. Ele acerta também o fato de Jesus ser apneas um personagem histórico, parte de uma mitologia muito popular, que tomou a dimensão de “salvador da humanidade” devido a uma rede de acontecimentos históricos que favoreceu o mito criado em torno de uma peesoa, aliás, da mesma forma que outros personagens (alguns históricos, outros nem tanto) como Maomé, Rei Arthur, Julio César, Sidarta Gautama, Confúcio, etc, etc, etc.

Além disso, não é de se lamentar que a religião seja relegada apenas ao âmbito do “reino subjetivo“, sendo reduzida “a um fato privado e íntimo, à margem a consciência pública“. Isso, na verdade, é um avanço, inclusive para a liberdade de crença, um direito fundamental de todo ser humano. O fato de as religiões serem assuntos de âmbito privado e não interferirem em decisões públicas é o que garante que cada pessoa possa acreditar (ou não acreditar) no que bem entender.

Enfim, Joseph Ratzinger poderia utilizar melhor a cultura e o conhecimento que ele certamente tem para evitar declarações tão falaciosas e sem sentido como essas.

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